Capítulo XX

— Gooo... - sorrateiramente, um pequeno Pokémon entra pela estalagem sem ser notado, conseguindo se esgueirar pelas escadas, as subindo com imenso esforço — Goomy!! - Feliz, ele para junto da porta de um dos quartos, não esperando que esta se abrisse de repente...

— Tamos indo, até mais! - Kairi se despede ao sair do quarto, correndo para as escadas.

— Evoi-Evoi!!! - Animado, Sora não se apercebe que ao abrirem a porta, o outro Pokémon havia sido esmagado contra a parede.

— Goomy... - este derrete-se pela parede abaixo, retomando sua forma no chão — Goom! - Decidido a se encontrar com Kairi, ele rasteja pelas escadas abaixo, sendo muito lento.

— O dia está perfeito para um pequeno treinamento antes do ginásio, saiam todos! - Chegando num jardim aberto, Sora pula para a frente, recebendo os companheiros de jornada. Kairi abre três das suas Pokébolas, ficando indecisa quanto a Saga.

— Evovoi! - Sora cumprimenta os demais e repara que Kairi volta a guardar a cápsula do galo.

— Gente, ainda temos uns minutos para o laboratório abrir, por isso vamos correr um pouco - ela diz, liderando o grupo que começa a dar voltas ao jardim.

— Emo-mo-mo-emon! 

— Krooo-koo

— Boa tentativa - Kairi fita os dois Pokémon voadores — é para correr com as pernas, vão para o chão, já! - Comandou, com os dois a aceitar, relutantes.

— Emon... - Light repara que Caspian continua voando.

— Koo! Koo! - Oliver denuncia a mariposa.

— Gente, a Caspian não tem pés, por isso ela só pode voar.

— Emon...

— Koo... 

— Dusssss - Caspian debocha dos outros dois.

— Tive uma ideia - a garota coloca sua mochila nas costas da mariposa, que com o peso quase vai abaixo — assim você também pode treinar sem precisar correr.

— D-dustox? - O olhar zombeiro se torna pesado, o que piora com a dupla Light e Oliver que debochavam dela.

— Evee...

— Vá, tudo a correr, vamos!!! - Kairi comanda, acelerando o passo, seguida pelos três Pokémon a pé e a mariposa planando. 

Voltando atrás...

— Tamos indo, até mais! - Kairi se despede de Edna e fecha a porta.

— Quanto barulho, logo de manhã - Edna acabara de acordar e tomava uma caneca de leite bem quente — será que Eizen está online a essa hora? - Terminando, ela se levanta e abre as janelas, ouvindo um enorme estrondo - Ela espreita pela varanda, mas não vê nada além dos arbustos em baixo, decidindo então ignorar o barulho e caminhando até ao pc — Eizen.

— Edna? Fico feliz com sua ligação, afinal sempre sente saudades do seu mano mais velho - o fazendeiro atende a call.

— Não seja besta - ela responde, com frieza, quase fazendo o irmão chorar — teve algum problema com Grimer, ultimamente?

— Uh? Grimer? Que eu saiba, não. Mas por quê?

— Encontrei outra Machina em Heliord e era guardada por Grimer e Muk.

— De novo? Será o mesmo que você enfrentou em Nor? - Edna confirma e o irmão repara no nariz dela — hey, o que é que você tem no nariz? Não me diga que fez um piercing... eu já te disse vári...

— Ahhh deixa! - Ela desliga a call na cara do irmão, se agarrando ao produtor de aroma que Cliff lhe havia dado no dia anterior, para aguentar o mau cheiro. Ela cora e sua mente viaja anos no passado.

— O que acha deste lugar para ser nossa nova casa? - Eizen pergunta, chegando num campo de flores.

— Essas flores... - Uma jovem Edna se abaixa e colhe uma.

— São Princessia, como a mãe gostava - ele diz, acariciando o cabelo da menina que cheirava a flor.

— Mãe... - quase chorando, a garota se encosta na cadeira, ficando a olhar para as pinturas no teto da estalagem. Ela sorri com as memórias que o aroma lhe trazia e deixa escorrer uma lágrima. Até que...

— Edena! - Bienfu sai da bolsa, em cima da cama. Ele parecia preocupado com algo.

— O que houve? - Perguntou, enxugando as lágrimas, não as escondendo do roedor.

— Edena... q-quer que-que so-sopre suas-as lag-lagrimas-mas? - perguntou, pulando para o colo da menina.

— Já não sou criança para você fazer isso. Me diga logo o que aconteceu - ela diz, com a frieza normal, desfazendo-a com um sorriso logo de imediato — mas obrigada... - Bienfu cora.

— Uh... Edena, a comida-da su-sumiu, fo-fomo-mos rouba-ba-bados!

— Ah isso... Rin comeu - ela responde, apontando para o macaquinho verde que ainda dormia, abraçado a um pacote de salgadinho, chocando o hamster.

— EDENA co-como po-pode?!!!! - Chateado, ele se joga contra Rin.

— Uko? - O macaco acorda, com um pulo.

— Roubo-bo-bou minha-nha co-co-mi-mida

— Que aborrecimento - ela se levanta — venham lá, vamos comprar mais - agarrando a bolsa, ela segue para a porta.

Voltando atrás... novamente

Por baixo do quarto das garotas, ficava o de Kyle e este se sentava na varanda, junto com seus Pokémon. O loiro olha para o céu, pensando na sua vida.

— O que aconteceu ontem? Estavamos indo tão bem, Bruce...

— Kehh... - O morcego abaixa os olhos, entristecido.

— Não, não fique assim - disse, se apressando a confortar o companheiro — a culpa é toda minha, eu que sou um treinador muito ruim.

— Keeeh-Keeeh - Este abana a cabeça.

— Nibun? - Sentado no parapeito, o coelho mirava seu treinador e, percebendo o quão abatido ele estava, pula para lhe dar um abraço — bunny! - O pequeno consegue arrancar um sorriso dele-

— Obrigado, Quickie - ele disse, olhando em seguida para uma sombra que se escondia debaixo da cama — também pode vir aqui, Benny.

— Grim... - tímido, o novo Pokémon de Kyle rasteja até junto dele.

— Agora estamos todos juntos - Kyle sorri — hey, será que elas já acordaram? - Em seguida, fica com uma expressão estranha.

— Bun? - O coelhinho fica preocupado ao ver o treinador se empoleirando na varanda, tentando subir para o piso superior.

— Vou só dar uma espreitadinha... - ele consegue subir, mas naquele momento a janela se abre — WOOOOAH!!!! - Kyle cai e é agarrado por Benny, o Grimer, que estica os seus braços de lodo para o puxar para dentro. Edna vem cá fora, mas não vê nada e pensa que o barulho foi impressão dela.

— Grimer...

— Foi por pouco... mil obrigados, Benny.

— Grimer! - O viscoso cora.

— Bunny... - Quickie encolhe os ombros e abana a cabeça — bun? - Suas orelhas captam o som de batimentos na porta, que logo acontece. Kyle a abre e vê Cliff, o comandante do exercito e líder de ginásio de Heliord.

— Que bom que o encontro, garoto - ele sorri.

— Comandante Cliff, algum problema?

— Nenhum, está tudo calmo. Por isso queria convidar você para vir na biblioteca.

— Biblioteca...? - Só de ouvir o nome, já deixava o garoto aborrecido.

— Vá, venha dai, eu o deixei ficar na estalagem de graça, você me deve isso.

— Eu ajudei a salvar sua cidade - Kyle revira os olhos, mas acaba aceitando.

O lugar lembrava Aspio, mas um pouco mais iluminado do que a cidade dos estudantes. Todo o edifico era decorado com estantes recheadas de livros e belas pinturas que sobreviveram aos séculos. Cliff senta-se à secretária e abre uma garrafa.

— Aceita um whisky? Um charuto? - Questionou.

— Tenho 10 anos... - respondeu, com o comandante fechando de novo a garrafa ao ficar atrapalhado.

— Ahem! Tem razão, passou no teste. Garotos não devem beber.

— Teste? - Desconfiou.

— É... é - disfarçou, tossindo — você deve imaginar porque o trouxe aqui, para este lugar vazio, onde ninguém nos pode incomodar - ele falou, num tom sombrio que deixa o garoto desconfortavel

— Er... uh? E-eu vou chamar um adulto!

— Eu sou um adulto - ele responde, coçando a barba.

— Eeeek!!!!

— Qual o problema, garoto? - Perguntou, não entendendo o guincho de Kyle — bom, eu vi como se comportou ontem, você é inteligente e consegue maneirar uma batalha, o problema foi quando seu ataque não funcionou e você congelou. Achei que você estava atrás de insígnias.

— Uh... eu estou, mas... 

— Ah, entendo, você é um dos "mas" - Cliff abana a cabeça.

— Um dos quê?

— Sabe? Em tantos anos, eu já vivi muita coisa, já vi muita coisa - ele se levanta e caminha para perto de uma estante — enfrentei vários tipos de treinadores, fracotes que não iam a lugar nenhum e fortões que me humilharam completamente. E os que mais me irritavam eram aqueles que sempre arrumavam desculpas para as suas derrotas - ele puxa de um livro de capa preta e volta a andar até à mesa — quando um treinador é fraco, ele admite que é fraco, desiste e se dedica a outra coisa — ele pousa o livro com força, assustando Kyle e volta a se sentar — veja, esses são todos os registos das minhas batalhas desde que me tornei líder do ginásio.

— Wow — Kyle folheia, eram mais de mil páginas, todas com cerca de 100 nomes em cada — você combateu toda essa gente?

— É verdade, como pode imaginar, já enfrentei treinadores de todo o tipo, nada mais me espanta.

— Então por que me chamou aqui? Se sou um dos piores, você não deve nem ter interesse em me enfrentar - comentou, fechando o livro e o empurrando de volta a Cliff, que o encara com um ar sério.

— Pelo contrário, garoto, eu vejo em você potencial que nem deve saber que existe - a resposta dele surpreende Kyle — você é forte, tem imenso Mana para dar aos seus Pokémon, só que tem uma fraqueza, se seu primeiro comando não funcionar, sua mente desliga e você desiste fisicamente da luta, o que é um grande erro - ele se levanta e passa a mão na cabeça do garoto — num combate entre treinadores, você não pode deixar de pensar, não pode esperar que sua ideia vai funcionar, tu tem que ter a certeza absoluta qu vai falhar e já ter uma outra ideia pronta e ainda outra quando a segunda falhar, entende'

— Er... nem por isso... - respondeu.

— Hm... - desiludido, o comandante abaixa a cabeça e retira uma pequena medalha do bolso, pousando-a na frente de Kyle — essa é a insígnia do Cascalho, fique com ela.

— Por que está me dando isso? - Perguntou, confuso.

— Vá, pegue - insistiu — você quer ser um treinador, certo? Então vai precisar de insígnias - o loiro se ofende e afasta o distintivo.

— Quero ser um treinador, sim, o melhor de todos - respondeu — mas não assim, eu quero merecer cada uma das minhas insígnias.

— Então por que é que não vence nos ginásios? - Perguntou, esboçando um sorriso cínico, fazendo Kyle cerrar os punhos.

— É porque... - sem conseguir responder, ele foge com o olhar.

— Me responda a isto, então - Cliff se levanta — por que é que acha que as aves voam?

— Uh? Como assim? Eles voam porque voam... - o comandante abana a cabeça.

— Talvez você não esteja preparado para esse tipo de conhecimento - sem dizer mais, Cliff deixa Kyle sozinho na biblioteca.

Entretanto, sentada em um banco de madeira com vista pra cachoeira, Edna e seus Pokémon comiam um sorvete.

— É bom relaxar um pouco - ela encosta a cabeça para trás, deixando que o vento massajasse seus cabelos enquanto ela aproveitava a brisa fresca. Até que...

— UAU! Um Grookey e um Dedenne!!! - Uma criança chata e com cara que devia apanhar porrada, berra junto de Edna, se debruçando sobre os Pokémon e os mexendo enquanto a mãe assiste.

— Eles estão comendo... cai fora - Edna o fita, mas sem sucesso. Rin e Bienfu se mostram incomodados com os toques da criancinha.

— Mãe, sabia que o Dedenne é tipo elétrico e fada? Aprendi isso na escola.

— Aii meu filhinho sabe muita coisa, é um génio, tão lindo - elogia a mulher com um tom de voz semelhante ao de um hipopótamo. 

— Eles tão comendo. Pare de encher o saco ou vão te atacar - avisou, Edna, vendo seus companheiros incomodados.

— Atacar? - O irritante fica assustado.

— Aiii como se atreve a assustar meu filhinho perfeito? Ele vai fazer carinho nos Pokémon, sim - a mulher encara Edna com um tom ameaçador.

— Valeu mamãe! - O garoto continua apertando os Pokémon, que estão se irritando.

— Sim querido, continue brincando com esses Pokémon, esqueça essa mal encarada.

— Oh, seu sorvete caiu - comentou, vendo Bienfu deixando cair sua sobremesa — mas eu dou carinho a você.

— Ai que lindo! - Berra a mãe, fotografando a cria — crianças são o melhor do mundo!!!!

— Você é adotado - as palavras de Edna gelam a criaturinha irritante — foi encontrado no lixo quando sua mãe procurava comida, se não tivesse chorado ela teria comido você também.

— Waaaaahhhh! Nããããão quero ser adotado waaaaaahhhhhh! - Berrando, o nojentinho corre para longe, com a mãe indo atrás dele.

— Querido, é tudo mentira, não ouve ela! - A mulher tenta alcançar a criança, mas cai e rebola pela rua abaixo, embatendo contra latas do lixo, derrubando-as sobre ela.

— Dene... - O hamster mira seu sorvete no chão, impossível de se comer agora.

— Ookey? - O macaquinho parte o seu ao meio e doa para Bienfu.

— Nene! - Feliz, o hamster aceita partilhar com o macaco e Edna sorri de novo, voltando a relaxar.

Entretanto, Kairi terminava seu treino e corria para a porta do laboratório, seguindo as indicações previamente dadas por Cliff, o comandante e líder do ginásio de Heliord.

— Isso continua fechado? - A jovem treinadora se esbarra com a porta encerrada, tenta espreitar para dentro mas tudo está escuro.

— Evo... - Desiludido, Sora se aninha no chapéu de Kairi, se preparando para dormir, quando...

— Da licença, moça - uma jovem mulher surge por trás de Kairi, assustando-a.

— Eek! De onde você brotou?

— Ah desculpa se te assustei - ela abre a porta do laboratório — vai querer entrar?

— Uh? Trabalha aqui? - Perguntou, Kairi.

— Vim pegar uma coisa e você?

— Ah, sim... me falaram que aqui estudavam mega evolução e queria saber mais sobre - Kairi diz, entusiasmada.

— Ohh! Eu acho que tinha aqui algum livro sobre isso - a mulher olha as estantes — segundo sei, mega evolução é um estagio temporário que acontece quando o treinador e seu Pokémon  possuem níveis de Mana muito elevados... aqui está - ela puxa do livro e entrega para Kairi.

— A Espada era a Lei? - Kairi olha a capa, tinha o desenho e um homem de longos cabelos cinza e ao folhear, chega numa página com aquele que parecia ser um Lucario, ainda com uma aparência diferente.

— É a história do imperador Artorius Zaphias, ele foi o primeiro a descobrir mega evolução quando seu Lucario atingiu esse estágio. Pode ficar com esse livro, se quiser.

— Muito obrigada! - Ela diz, se recordando de imediato — espere, Artorius Zaphias não foi o tal imperador apagado pela história?

— Yep! Esse mesmo - a mulher responde, sorrindo — et voilá, achei! - De dentro de uma gaveta, ela retira um manuscrito antigo, o abrindo.

— O que é isso? - Perguntou, Kairi, vendo a mulher sorrindo.

— Você quer comprar um Pokénav? - Questionou de volta, retirando um aparelhinho de sua bolsa — eles agora usam tecnologia Porygon - disse.

— Er... n-não...

— Pena, uma garota tem que ganhar a vida, não é mesmo? - voltou a guardar — ah, meu nome é Zinnia, a gente vai falando, tá? - ela enrola o manuscrito, pisca o olho a Sora e deixa a garota sozinha no laboratório.

— Que mulher estranha... - Confusa, a jovem abre o livro e o folheia, vendo imagens do suposto imperador e seu Lucario — o Lucario dessa imagem já é como me lembro dele e a cara desse imperador não me é nada estranha... 

— Evee... - nesse momento, um homem de jaleco branco entra no laboratório, se surpreendendo com a presença de Kairi.

— Como é que você entrou? - Perguntou, vendo a menina com o livro na mão.

— Ah, uma das suas colegas abriu a porta, Zinnia... - respondeu, animada com o livro nas mãos.

— Zinnia? Não conheço ninguém com esse nome.

— Er...quê? - Atrapalhada, Kairi fica pensando que provavelmente participou de um assalto.

A mulher fugira com o manuscrito, subindo até às muralhas da cidade.

— Aquele Eevee é realmente algo especial - comentou, usando um traje diferente e uma capa — tadinha da garota, acho que vou ter pena dela...

— Murr... murr! - Um pequeno Pokémon esperava pela mulher.

— Ta aqui, Aster - ela mostra o manuscrito — já podemos construir nossa machina - disse, enquanto nas ruínas Shaikos, no continente de Illyccia.

— Luurk - o Pokémon gigante, que outrora perseguira Kairi, Elena e Kyle, emitia ruídos como se estivesse chorando enquanto acariciava uma estátua.

Continua...