A essa hora da manhã as ruas ainda que ainda estavam desertas e cobertas pela neblina começavam a ecoar os primeiros passos dos comerciantes que ainda sonolentos caminhavam para abrir suas barracas e lojinhas junto ao cais e ao coliseu. Era o inicio do penúltimo dia da liga Pokémon.
Não conseguindo dormir, Patty caminhava lentamente enquanto observava a Maris Stella alternando sua cor entre azul e rosa. Percorreu o cais até chegar ao pontão e viu o oceano coberto por uma espessa neblina gelada.
E ali Patty permaneceu em silêncio, como se esperasse uma terrível tempestade que estava para chegar. As horas foram passando e as ruas começaram a encher de movimento, enquanto na pousada, Kairi descia para tomar o café da manhã com seus amigos. O seu olhar cruza com o de Kyle e os dois ficam em silêncio por alguns instantes.
— Querem parar com isso? Jeez até parece que não sabiam que acabariam se enfrentando - comentou, Edna que em seguida morde num pãozinho. Kairi decide sentar junto de Elena que puxa a cadeira para trás.
— Deviam se orgulhar, chegaram nas semi-finais e ficaram na frente de tantos outros treinadores - disse Rutee, tentando animar o filho e Kairi.
— Evee... - Sora demonstrava preocupação para com sua treinadora e pula no seu colo.
— O vosso combate é só de tarde, não é? Relaxem um pouco e aproveitem esse manjar que a mãe do Kyle cozinhou para nós - sugeriu, Eizen.
— Ora não é nada demais, assim me deixa sem jeito - Rutee cora e Kyle o olha de lado.
— Nada demais? A delicadeza na textura desses palmiers, nota-se que demorou imenso tempo a aperfeiçoar essa técnica - elogiou, Eizen — lendas contam que são necessários três anos para masterizar o creme de caramelo e mais oito para o palmier - continuou.
— Você agora é entusiasta dos palmiers? - Perguntou, Elena.
— De todo o tipo de pasteis doces, na verdade - Edna dá os ombros — o problema mesmo é quando ele os tenta cozinhar...
— Um dia irei masterizar a arte do palmier, ouviu isso mundo? - Eizen fica intenso.
— Se quiser posso lhe passar umas receitas para ir praticando - disse Rutee, com Eizen se entusiasmando.
— Faria isso por um misero mortal? Ohhhh que dia glorioso! - Os olhos de Eizen brilham de forma assustadora, deixando Rutee algo nervosa.
— Eizen, pare de se fazer à minha mãe! . Kyle gritou, incomodado.
— Eh?! Não é nada disso, você entendeu tudo mal! - Eizen tenta se desculpar e nisto Magnólia se levanta em silêncio.
— Avó? - Kairi se vira para a mulher que veste seu casaco.
— Vocês são muito barulhentos, vou tomar meu café noutro lugar - ela diz, saindo da pousada. Eizen fica desconfiado.
— Também vai? - Edna pergunta, vendo o irmão se levantar.
— Ehr... vou no banheiro, acho que comi demasiados palmier - disfarça, saindo a correr.
— Estou preocupada com Patty - disse Kairi, quebrando o silêncio.
— Ela tem estado muito estranha, nem veio ver nossos combates - Kyle comentou, finalmente trocando palavras com a amiga.
— Vocês deviam ir ver dela - sugeriu, Elena.
— É... você tem razão - Kairi se levanta.
— Vai também - Edna dá uma cotovelada em Kyle.
— Eh? Por quê? - Ele pergunta, levando um pisão que o obriga a controlar para não soltar um berro de dor.
— Vai logo! - Edna ordena e Kyle, vencido, acompanha Kairi.
Enquanto isso, Eizen se esconde por entre os arbustos e tal agente secreto tenta seguir Magnólia que caminha lentamente pela rua principal até ao cais.
— Um estaleiro abandonado? Não me parece lugar para se tomar café da manhã - coçando o queixo e armado em detetive, ele continua seguindo a senhora até um barracão velho.
Tratava-se de um edifício que não era usado há vários anos e estava na lista para demolição, mas por alguma razão a obra sempre atrasou e então o velho barracão continuava de pé, se tornando no lugar perfeito para Magnólia esconder seu segredo. Um segredo que Eizen estava quase a descobrir ao se empoleirar no muro e espreitar pelo vidro quebrado.
— Não pode ser! - Eizen fica chocado com o que vê.
— Nyaaa nyaaaa! - Um grupo de Purrloin se juntava em torno de Magnólia, ela havia trazido guloseimas para todos que agradeciam se esfregando nas pernas da senhora e ronronando.
— Isso, comam tudo meus pequeninos, estão com muita fome, não é? - Ela continua dando coisas, como novelos de lã para brincarem. Eizen espreitava, discretamente.
— Sinceramente nem sabia o que esperar, afinal ela é uma senhora simpática - com suas desconfianças resolvidas, ele desce do muro — puxa Eizen, desconfiar de uma senhora que ajuda Purrloin abandonados... fiquei até com vergonha de mim mesmo.
— Até que enfim... - Magnólia havia percebido que estava sendo seguida desde o começo e aproveitou os Purrloin abandonados para despistar Eizen. Então ela abre um malão preto e retira um casaco da mesma cor.
— Nyaa? - Os Purrloin veem ela trocando de roupa e colocando uma máscara no rosto.
— Acha-se muito esperto, mas na escola onde você andou eu fui professora - e assim Magnólia toma a aparência de Magna, a treinadora veterana que chegara ás semi-finais da liga Pokémon.
O coliseu recebe a plateia que entra em extase aquando o anuncio dos participantes. Magna recebe uma forte ovação enquanto Axel é vaiado pelo que vem fazendo na prova.
— Não parecem ir muito com a sua cara - comentou, Magna.
— Fica na sua vozinha - Axel responde com frieza.
— Vamos então proceder ao lançamento da moe...
— Não se rale - diz Magna, interrompendo o juiz — deixe o menino escolher, não é como se lhe fosse valer de muito - ela ri de peito cheio, irritando Axel.
— Escolha um qualquer, para mim tanto faz - ele responde.
— Er... bom, parece que teremos um campo aleatório, vamos ver o que o sorteio nos trás - as maquinas começam a trabalhar, digitalizando uma zona de neblina gelada, rodeada por placas de vidro que balanceavam livremente — vejam só, caiu o campo mais dificil, caros participantes bem vindos ao mundo dos espelhos! - Concluiu o juiz, recebendo aplausos.
O mundo dos espelhos era o pior campo para as batalhas, apesar da plateia conseguir ver tudo, os participantes têm a visão embaciada pela neblina espessa que cobre todo o recinto e os espelhos que facilmente podem ser contraditórios ao que os olhos transmitem. No entanto para a plateia era como um doce, um evento raro que permitia os fãs de filmarem os erros dos participantes e os postarem em redes sociais.
— Essa será uma batalha de seis contra seis, o primeiro lado a derrotar seis Pokémon será declarado vencedor e avançará para a grande final. Muito bem, podem começar! - O juiz anuncia e Axel se apressa a puxar a Pokébola.
— Em frente, Skarmory! - Axel escolhe a ave metalizada que quebra um dos espelhos, vendo ele se recompondo em seguida.
— Skar? - A ave olha em volta.
— Ficou surda? Já pode começar, vozinha! - Axel grita para o outro lado.
— Pobre criança... meu Gengar já está há muito tempo no campo - Magna solta uma risada provocatória.
— Quê? - Axel vê o espelho que Skarmory quebrou ficando negro — Saia dai!
— Skar? - Sem perceber a ordem, a ave metálica recebe uma potente bola sombria nas costas, caindo sem sentidos.
— Er... Skarmory está fora de combate, a vitória vai para Gengar! - Nem com os replay a plateia conseguiu perceber o que acabara de acontecer, uma imensa energia ocupou um dos espelhos e deste saiu uma Shadow Ball que terminou a ave de uma vez.
— Uh... - Axel ficara estático, o que teria acabado de acontecer? Ele não percebera nada e nem se mentalizava que precisava trocar seu Pokémon.
— Axel, vai ter que fazer uma escolha ou será desclassificado - o juiz chama o garoto a atenção e este desperta do transe.
— ... certo - ele retorna Skarmory e lança sua próxima cápsula — não me desiluda, Floatzel em frente!
— Floow! - O Pokémon marmota começa a procurar seu oponente.
— Thunder Bol! - Magna comanda e nisto, os espelhos brilham em tons amarelos.
— Flow? - Floatzel olha por um instante e uma carga elétrica se abate sobre ele, deixando-o no chão, sem sentidos.
— Er... Fl-Floatzel não está mais em condições de combater, mais uma vitória para Gengar.
— Que... - Axel volta a ficar paralizado.
— Então garoto, achei que tinha vindo para vencer - Magna provoca.
— Cale a boca - irritado ele retorna Floatzel e lança o próximo — em frente, Golem!
— Goleeeem! - O Pokémon rochoso ruge, com faíscas saindo do canhão em suas costas.
— Vejam só, esta é uma espécie e Golem que cresce perto de usinas, uma visão bem rara - falou o anunciador que voltava a deixar a plateia hypada.
— O Gengar está escondido, mas deixou vestigios elétricos nos espelhos, procure-o e ataque com Rock Blast!
— Gole! - O rochoso obedece e começa a rastrear a electricidade, com os espelhos vindo até ele como íman.
— Ataque todos! - Axel ordena.
— Goleeem! - Ele dispara uma imensa massa rochosa, quebrando todos os espelhos, que se reformam em seguida.
— Cadê ele? - Axel pergunta, confuso, até que olha para o chão, reparando na sombra de Golem — não está sol nesse campo para formar sombra... GOLEM FUJ... - antes que terminasse, a sombra sorri com um rosto malicioso.
— Gole? - O Pokémon não se consegue mover e mil braços brotam do solo, se estendendo por todo o campo antes de o abraçarem numa imensa escuridão. Após ser solto, o Pokémon cai inanimado.
— E vai em 3, Golem está fora de combate e deixa Magna com uma absurda vantagem - a plateia volta a ficar em silêncio, os Pokémon de Axel estão caindo um por um.
— Não adianta tentar lutar, esse é o nosso pesadelo - continuou, Magna.
— Cala a boca velha, Swoobat vai em frente e não falha! - Com raiva, ele lança seu quarto Pokémon.
— Shadow Ball! - Magna sussurra.
— Swo? - O morcego tenta perceber de onde vem a esfera e nisto todos os espelhos ficam negros começam a dançar à sua volta.
— Gengar... - um suspiro segue-se a uma chuva de bolas de energia que caem como meteoritos sobre Swoobat.
— Er... 4... Gengar acaba de derrotar Swoobat, deixando Axel com apenas dois Pokémon - falou o juiz, que nem conseguia fechar a boca, com o espanto.
— Você está preso nesse mundo escuro, deixe que a luz o guie e talvez consiga sair dele antes que se afogue - Magna diz, mas Axel não quer mais ouvir — cadê aquele treinador que submeteu o próprio irmão, o obrigando a desistir?
— Calada! Calada! Palossand, encha tudo de areia! - Ele ordena, libertando um imenso castelo de areia que começa a engolir os espelhos.
— Saaaand!
— Da terra se formou, à terra voltou - profetizou, Magna.
— Pallo? - Uma imensa energia vem de dentro, explodindo o Pokémon e o deixando deformado. Os espelhos regressam ao campo enquanto Palossand se reforma com a areia, no entanto não parecia ter mais energia.
— E com isto Palosand não está mais em condições de combater, a vitória vai para Gengar! - Anunciou o juiz.
— ... não, eu tenho que vencer... pelo pai, ele precisa ser vingado. Eu tenho que a vencer! - Com Kairi em sua mente, ele ignora tudo o que vem acontecendo e liberta Grimmsnarl — destrua, destrua tudo! - Ordenou em desespero.
— Grriiiim! - O ogre estende seu pelo e, como lanças, perfuram os espelhos, destruindo-os novamente.
— Continue hahahaaha! Não pare hahahaa! Destrua tudo! - Num estado mental lastimável, Axel continua a comandar seu Pokémon que também usa o pelo como chicote no sono.
— Você afasta as pessoas que te querem bem e só deixa escuridão entrar em seu coração. Seus Pokémon também sentem isso, não percebeu? - Magna se mantinha calma ao ver a personalidade destrutiva do seu oponente.
— Cala a boca vagabunda, Grimmsnarl ataque ela! - A ordem choca a plateia.
— Grim? - O Pokémon olha para o treinador e no seu rosto expressa duvida.
— Faça o que eu lhe mandei, perfure essa velha nojenta hahahahahaha! - Ele volta a ordenar.
— Grim... - relutante, o ogre mira Magna e lhe lança o seu pelo, a senhora não se move e acaba sendo perfurada.
— Hahahahahaha! É para aprender, assim eu ganho, sou o vencedor! Hahahahaha! - Axel beirava a loucura, quando...
— Aqueles que olham com os olhos embaciados não vêem nada mais do que sombras e escuridão - a voz de Magna faz-se ouvir e Axel percebe que acertou em um espelho.
— Não... não pode ser.
— Sete segundos... tempo suficiente para si? Vamos ver o que faz com eles - Magna ergue o braço.
— Grimmsnarl, ataque-a! - Ele ordena.
— Argh! - O ogre corre na direção da senhora, mas uma imensa bocarra se abre por debaixo dele.
— Oops, tempo acabou - Magna diz e a boca se fecham engolindo o Pokémon de Axel e o expelindo para junto do treinador, sem se conseguir mover.
— E terminou! Grimmsnarl está fora de combate, embora não importasse porque Axel tentou atacar sua oponente e está desclassificado do torneio. Magna avança para a grande final.
— ... hm! - A senhora dá os ombros e retorna ao tunel, deixando Axel ajoelhado no coliseu, sem reação e rejeitando ajuda de quem tentava se aproximar. A organização resolveu o deixar ali sozinho enquanto as pessoas abandonavam o recinto.
Momentos depois.
— Heh? Como assim já acabou? - Kairi ainda não tinha encontrado Patty e já via as pessoas saindo do coliseu, comentando sobre o combate.
— Pelo que ouvi o Axel perdeu por 6-0 contra o Gengar da Magna - Kyle diz.
— Então um de nós vai ter de enfrentar aquele Gengar na final... - Kairi tremia só de pensar.
Enquanto isso...
— Não... eu não posso ter perdido... - Axel cambaleia pelas ruas, até que se vê num beco com uma sombra o chamando.
"Procura vingança?"
— Uh? - Escutando uma voz, ele avança — pai? - A sombra começa a se formar na sua frente.
" Venha até mim, meu filho"
— ...Hm! - No cais, Patty sente um arrepio na espinha e um nome surge na ponta da sua língua — Darkrai!
No próximo capítulo: A Sombra de Van Aifread, o terrível pirata!
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